segunda-feira, 27 de outubro de 2008

chuva fina

dentro do estúdio não dá nem pra saber que clima faz lá fora
quando saí de casa o dia estava abafado e quente
e agora aqui nesse escuro sinto dentro de mim um dia úmido
cheio
achei uma coisa que escrevi anos atrás
e resolvi colocar aqui
talvez porque tenho escutado nick cave
talvez porque continuo sentido saudades e vontade de gente



(um email coletivo pra pessoas que fazem muita falta)



Se eu fosse ao mercado agora encontraria pinhão, aquele tipo de castanha lá do sul.
Poderia até comprar uma erva mate ou um chá, quem sabe até um vinho ou algo que aqueça um pouco esse dia de chuva fina e vento forte.
Poderia ver um filme, ler um livro ou jogar conversa fora.
Mas o que mais encontro agora são lembranças e saudades. Saudades de outros tempos, de outras pessoas, de um pouco de família e um pouco de amigos.
Talvez até de acreditar mais nas coisas e nas pessoas, de ter mais vontade de entrega, de envolvimento.
Agora, mesmo com a chuva fina, talvez eu fosse na "Ponte das capivaras". Talvez eu procurasse algo pra me entorpecer um pouco, pra tentar chegar mais perto do que me faz falta.
Posso entrar numa sala escura e ver um filme e me sentir só, de certa forma, ao ver o filme. Mas mesmo no escuro e na suspensão que um filme pode provocar não consigo estar totalmente só. É como se ao fim da película pudesse ter aquele silêncio necessário mas aquela sensação do outro que tive tantas vezes. E ter o olhar do outro, uma certa cumplicidade. Como se ao sair do mesmo filme, cada um levasse consigo um segredo. Algo que só ele viu, ou sentiu, ou pensou.
E ao olhar nos olhos ainda úmidos, ou brilhantes, ou vazios do outro pudesse se fazer uma confissão. Comentar com cuidado alguma cena. Ter cuidado para não banalizar, ou resumir com um "gostei" ou "não gostei".
Num dia frio e úmido assim, queria pessoas. Várias. Aquelas que pertencem a cada momento diferente, como se cada uma fosse personagem de um livro ou de um filme diferente e eu pudesse juntar todas num só.
E pudesse ter e dar carinho e cumplicidade a cada um. E por alguns momentos ficaria talvez uma coisa sentimental demais, mas que após aquele momento de estranhamento e entrosamento que as pessoas sentem quando ficam muito tempo sem se ver ficaria tudo mais natural e fantástico.
São dos dias cinzas que eu gosto mais. Eles me colocam um pouco mais perto de todos que não estão perto. E dos que estão um pouco mais perto mas estão tão distantes.






Fri, 2 May 2003 15:31:53

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