quinta-feira, 30 de outubro de 2008

chuva forte e vento fino
a mesma pessoa oscilando

sou essa coisa estranha
que alterna
atualmente entre o bem querer
e o querer mais

a pessoa que escreve
mas esconde
porque no fim das contas
tem medo de se expor demais
e vai se expondo
indefinidamente

será - - -

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leio dinha e meus olhos enchem d'água
será mesmo que somos tão almodóvar assim
carrego um monte de gente aqui dentro
isso às vezes me pesa um pouco
pesam as visitas que não fiz
as despedidas das quais fugi

gosto de gente
de novidade
de alguma coisa que seja mais do que sentar no boteco
ainda que sentada no boteco
o copo de plástico usado que o amaral me deu
o osvaldo me explicando a estatística
o livro que a gente fez pro ivan
aquele menino de cílios compridos me vendo dormir depois da lua imensa em ilhabela

gosto de gente que não tem medo de gente
que vê a diferença como diferença
apenas
não com pontos a menos




divagando em 25-10-08



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acho que caí na minha própria armadilha
só existo pra você quando você me vê
e o mais estranho é que pra mim é um pouco ao contrário
quando estou com você tudo é meio etéreo
fico me perguntando se você está mesmo ali ou se é algum tipo de alucinação

porque existe uma doçura em você
um cuidado
um gelo na minha barriga
uma borboleta
de asas delicadas
uma sensação me invade e diz que o que vejo
na verdade
é criação da minha mente

a tarde de hoje parecia perfeita pra passear
um vento leve e constante
o sol
e você
sempre você
vontade de mais nada

será mesmo que somos parte de um roteiro
que está acabando de ser filmado





sd#final em 27-10-08



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eu não sou eu
nem sou o outro
sou qualquer coisa de intermédio
pilar da ponte de tédio
que vai de mim
para o outro




mário de sá carneiro
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etéreo: 2

:

4. muito miúdo; quase impalpável
5. feito com delicadeza
7. feito com prima arte e delicadeza



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assim
como em guimarães
quase imaginado
uma vez que um ser quase imaginado
entra na minha vida

tudo pára

não há o que prosseguir
a menos que o ser
quase imaginado
queira prosseguir







..

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

chuva fina

dentro do estúdio não dá nem pra saber que clima faz lá fora
quando saí de casa o dia estava abafado e quente
e agora aqui nesse escuro sinto dentro de mim um dia úmido
cheio
achei uma coisa que escrevi anos atrás
e resolvi colocar aqui
talvez porque tenho escutado nick cave
talvez porque continuo sentido saudades e vontade de gente



(um email coletivo pra pessoas que fazem muita falta)



Se eu fosse ao mercado agora encontraria pinhão, aquele tipo de castanha lá do sul.
Poderia até comprar uma erva mate ou um chá, quem sabe até um vinho ou algo que aqueça um pouco esse dia de chuva fina e vento forte.
Poderia ver um filme, ler um livro ou jogar conversa fora.
Mas o que mais encontro agora são lembranças e saudades. Saudades de outros tempos, de outras pessoas, de um pouco de família e um pouco de amigos.
Talvez até de acreditar mais nas coisas e nas pessoas, de ter mais vontade de entrega, de envolvimento.
Agora, mesmo com a chuva fina, talvez eu fosse na "Ponte das capivaras". Talvez eu procurasse algo pra me entorpecer um pouco, pra tentar chegar mais perto do que me faz falta.
Posso entrar numa sala escura e ver um filme e me sentir só, de certa forma, ao ver o filme. Mas mesmo no escuro e na suspensão que um filme pode provocar não consigo estar totalmente só. É como se ao fim da película pudesse ter aquele silêncio necessário mas aquela sensação do outro que tive tantas vezes. E ter o olhar do outro, uma certa cumplicidade. Como se ao sair do mesmo filme, cada um levasse consigo um segredo. Algo que só ele viu, ou sentiu, ou pensou.
E ao olhar nos olhos ainda úmidos, ou brilhantes, ou vazios do outro pudesse se fazer uma confissão. Comentar com cuidado alguma cena. Ter cuidado para não banalizar, ou resumir com um "gostei" ou "não gostei".
Num dia frio e úmido assim, queria pessoas. Várias. Aquelas que pertencem a cada momento diferente, como se cada uma fosse personagem de um livro ou de um filme diferente e eu pudesse juntar todas num só.
E pudesse ter e dar carinho e cumplicidade a cada um. E por alguns momentos ficaria talvez uma coisa sentimental demais, mas que após aquele momento de estranhamento e entrosamento que as pessoas sentem quando ficam muito tempo sem se ver ficaria tudo mais natural e fantástico.
São dos dias cinzas que eu gosto mais. Eles me colocam um pouco mais perto de todos que não estão perto. E dos que estão um pouco mais perto mas estão tão distantes.






Fri, 2 May 2003 15:31:53

sábado, 25 de outubro de 2008

talvez você não acredite
mas é assim que te vejo
uma covinha que indica sorriso
um sorriso que indica tantas outras coisas

às vezes seus olhos não brilham
mas exprimem uma outra urgência
ainda to tentando descobrir que urgência é essa
e às vezes me vejo lá no fundo
atrás dela e do brilho

fui capturada
pelos olhos
pelo buraco de agulha
pela pessoa que inevitavelmente
enche meus olhos
enche todos os meus sentidos

atualmente o sentido de escrever também

acabo escrevendo menos do que queria
medo da repetição
medo de dizer tantas vezes o quanto você importa
e sem querer te fazer desaparecer
uma fotografia perdendo as cores
os grãos
e sobrar só o papel

um papel que te dei
de destaque


daqui pra lá
só uma semana
é o que vejo
é o que nos resta

os dias contados e eu fingindo que não conto

será mesmo que demorei muito
ou será que o medo do que vem é o nosso carrasco

antes
agora

escolhas

sábado, 18 de outubro de 2008

.
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três anas na esquina
um dia intensamente nublado
dose de realidade
ainda que fantástica

o vendedor de agulhas
alguém pede um cigarro
outro pede só fogo

a muralha da china e um ponto final
ou só um ponto
desenho sobre foto
outra intensa abordagem de realidade

vento frio na nuca
e três anas conversam
ana
ana
de trás pra frente
enio não pode ser ana
enio não existe de trás pra frente

na esquina alguém chega e diz que foi deus quem o mandou
viu aquelas mulheres conversando
vai colocar o nome delas num livro de oração
as três anas
ele disse

o nome dele
dose estranha de realidade num dia nublado
em que a coisa mais intensa era você mesmo sem estar ali
era o mesmo que o seu
era o seu nome num dia em que eu não era eu
ela não perguntou
mas ele disse
e
não tirou os olhos de ana enquanto falava

obrigada
de minha parte conheço mas não quero
acredito em gente
e prefiro assim
ela disse

numa tarde em que tudo era real intenso e nublado
eu também era ana
na esquina

.
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sexta-feira, 10 de outubro de 2008

pra dinha. porque é dela, e não meu. desculpe por pegar e nunca mais devolver..

hoje amanheceu com neblina
e fazia muito tempo que não era molhado
odeio amanheceres porque fica claro
quando fica escuro não vejo o espelho
daí pensei em furar meus olhos
mas a manhã se desdobrou úmida
numa textura de veludo
que me fez gostar dos meus olhos:
só eles tocam aquilo que
_______________minhas mãos não alcançam.
amanheceu veludo
____mas eu insisto em me enrolar no
arame farpado
necessidade orgânica
dependência química
eu nunca tive um corpo
eu evaporo sempre
o psiquiatra não precisa me convencer,
eu sei
mas ele insiste, e me diz como se fosse
___________________para si mesmo:
__nós não somos nós
__somos um conjunto de reações
______________________físico-químicas.
físico-química. palavrinha cretina
não que isso me reduza
pelo contrário
apenas que palavras separadas por hífen
sempre me pareceram cretinas
não que eu não seja cretina
se eu não fosse
____não precisaria desse exercício de
_________________________palavras
palavras e hifens me cansam
e eu preciso deles
necessidade
dependência orgânica
ele me diz. não precisava
_____________________eu sei
mas ele insiste:
__um homem é apenas
____os cordões umbilicais que corta.
eu nunca tive um corpo
___________________eu sei
mas eu insisto e penso
____em furar meus olhos
____todos os dias em que amanhece
_________________________veludo
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prolixa
e
disléxica
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uma enxurrada de coisas dos últimos tempos_últimos dias

queria colocar um desenho que não fosse repetido
acho que não desenhei mais
ou não fotografei mais desenhos

- - -



um amor pra mim não pode ser menos do que incrível
me sei pelos outros e não quero saber menos
aos seis anos de idade um menino gritava pelo
pátio da escola que me amava
eu que era tão pequena e calada
um pouco presa nos meus jardins da infância

em meio a bagunça de caixas sacos e roupas
abri uma pasta vermelha com fotos e tirinhas coloridas
e palavras encantadas escritas para mim
a cada dia fica mais difícil conviver com a
presença da ausência
se fosse apenas a ausência
talvez as coisas fossem mais fáceis

as quatro da manhã o seu rosto chegou em mim por sonho
você estava ferido
perdi o sono
não sei se sou eu quem crio situações absurdas
mas não pude ligar pra saber de você
e não sei de você nem agora enquanto escrevo
se você não tivesse que partir assim
antes que o sol nasça
se eu pudesse dormir tranquila enquanto você
dorme ao meu lado
essas palavras teriam um quê de alegria
não só de angústia

outro dia senti teu coração bater apressado
no compasso da minha ansiedade
nunca vou pedir que me escolha
mas nada me impede de torcer por isso

e então as coisas escritas seriam outras
como a delícia de te ter ao acordar


até a rotina teria o seu charme

04_10





o barulho do fósforo sendo riscado é tão complementar ao som das teclas de um aparelho de escrever que deve ser por isso que tantos escritores fumam
o ar noir da meia luz e a fumacinha subindo

fumo quando me vitimizo
sacana isso comigo
com mais ninguém
ao menos desde que comecei a fumar quando estou vítima não chorei mais
melhor assim
não quero derramar lágrimas até que elas saltem sem que eu possa fazer nada

não quero derramar lágrimas porque mesmo caótica sou inteira
sou inteira nesse momento

sei tanto de mim e de minha vontade
me vitimizo porque a decisão foge das minhas mãos
mas seja ela qual for
continuarei inteira
mais ou menos completa

nessa história sempre torci por mim
hoje torço mais
mais ainda
e sempre mais

hoje sei exatamente quem sou e quanto valho
o que não é pouco

não me resta dúvida
cheguei atrasada
mas o projecionista desse filme delicioso que passa quer me deixar entrar


05_10
que inveja verde
verde
roxa
ou rosa

acabei de descobrir um blog
encantador e fascinante
acabei de descobrir uma clarice lispector que eu não conhecia
inveja mais verde ainda

"
Tenho várias caras.
Uma é quase bonita, a outra é quase feia.
Sou um o quê? Um quase tudo...
Não me sinto bem.
Não sei o que é que há.
Mas alguma coisa está errada e dá mal-estar.
No entanto estou sendo franca e meu jogo é limpo
Abro o jogo!
Só não conto os fatos de minha vida:
sou secreta por natureza!
"

ela escreve tão bonitinho
ainda bem que eu já gostava dela
senão talvez não gostasse


mentira

gosto de mentir um pouco às vezes

só um pouco

e só às vezes


gosto mesmo é de contar verdades inventadas
as minhas
e às vezes as dos outros

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

.
.
.

nós também sentimos saudades e falta de vc por aqui...
por que vc sempre parece criança, hã?



deve ser porque me sinto assim muitas vezes



é engraçado isto



ontem mesmo eu queria entrar no guarda-roupa e ficar lá até ser resgatada
lembra disso?



claro querida.
hoje catei a casinha das meninas e fiquei brincando...
depois cansei e vim pra casa



q casinha?



casinha de bonecas

.
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.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

to paralisada
não as mãos
mas alguma coisa aqui dentro

não sei

isso cai bem nesse contexto
não saberemos nunca
talvez

quando ouço os olhos da manhã
me pergunto o quanto você sabia daquela letra
ou o quanto aquela letra sabe de nós

quando penso que o tempo tem uma estranha maneira de existir
dilatando-se ou encurtando-se como lhe convém
fico assustada
e imagino o que tem nessa caixinha de surpresas
talvez nada
talvez muito
uma vida
ou instantes


o tempo só existe quando tentamos medí-lo
li isso hoje
e medindo assim pode parecer pouco
o que se foi
e o que virá

to confusa
hoje seria um dia pra entrar no guarda-roupa e ficar lá quietinha
até que alguém me diga
até que eu saiba
que está tudo bem

terça-feira, 7 de outubro de 2008

o amor, esse sufoco,
agora há pouco era muito,
agora, apenas um sopro
ah, troço de louco,
corações trocando rosas,
e socos




paulo leminski


e
gracias marquito
cada palavra cola um pedacinho aqui outro ali

segunda-feira, 6 de outubro de 2008




mira: una vaquita de san antonio posó en mi ventana

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

um menino que tem os olhos que brilham assim disse que leu meu blog
penso que daqui pra frente sempre vou pensar que talvez ele leia
e talvez eu tenha receio de escrever qualquer coisa
exercício interessante esse de pensar nos olhos que lerão minhas palavras

to sentindo vontade de voar
como em sonho
correr correr bater os pés no chão e voar
dirigir carros fantásticos de sonho
feitos de papelão madeira e até mesmo de nada

bater os pés no chão e esquiar na neve
com um menino cujos olhos brilham assim

piscar e te ter aqui
piscar de novo e ainda te ter aqui
e pensar que será assim por muito tempo e que esse tempo todo ainda será pouco
pra tanta coisa que temos pra fazer

deitei minha cabeça no seu ombro
falamos de coisas que nos interessam
senti uma plenitude
como se tivéssemos surgido assim
desde sempre você ali e eu com a cabeça no seu ombro

lembrei de hedwig
nossos umbigos descosturando pra depois se unirem
como era no princípio

se eu acreditasse em deus
ou em deuses
diria que fomos separados por capricho de um deles

felizmente eles se descuidaram
e eu vaguei aqui e ali
mudei tantas vezes que já nem me lembro
ainda bem que meu avô era caixeiro viajante
fiquei com um pouco disso pra mim

ainda bem que você não é filho de ciganos
e ficou aqui me esperando