Já faz quase uma semana. Foi na sexta passada, depois que me perguntaram como estou e eu respondi o que sentia naquele momento. Disse que pouca coisa mudou, que minha rotina já era bastante caseira, sempre atarefada com demandas da casa e dos filhos pequenos. Dali em diante comecei a descida. Lembrei do caminho pela estrada mais sinuosa e menos movimentada que leva até a escola dos meninos. Lembrei que nesta época do ano as mudanças na natureza são radicalmente belas, as árvores recomeçam a ter folhas novinhas e brilhantes, o caminho se enche de flor, as vinhas recuperam o aspecto esverdeado e mesmo muito ao longe a paisagem é de diversos tons de verde, algo que dura só até uma parte do verão.
Pensei em quão precioso é sair de casa nestes dias e encher os olhos de vitalidade. Um estoque que precisa durar até os dias mais gélidos do inverno, quando escurece às cinco ou cada vez mais cedo e o vento corta cada vão de pele que encontra.
Pensei na figueira, nas amoreiras em flor. Pensei na falta de horizonte de anos atrás, quando fui engolida pela cidade grande e achava bem normal "se matar de". Se matar de trabalhar. Se matar de ficar no trânsito. Se matar de solidão em meio a uma multidão. Tudo era excessivo. Era normal ser excessivo.
Depois disso foram os grupos. A necessidade de estar junto mesmo estando longe. Depois veio a angústia de perceber que a narrativa é múltipla, torta e enviesada. E então fui ruindo. Não consigo olhar pela janela sem enxergar um pedaço do caos. O motorista a passar álcool em gel nas mãos e no volante, a fila da farmácia que só acaba quando o expediente se encerra.
Ontem foi meu filho mais novo que perguntou quando a quarentena acaba. Hoje foi o mais velho. Ia durar duas semanas. Pois é, ia. Então vai emendar com as férias de páscoa. Pois é, vai. Que dia que a vó e a tia vem mesmo? Não sei filho. Não sei.